O alucinante mundo dos super torneios

Prezados enxadristas universitários e comunidades,

Segue um artigo interessante do ponto de vista histórico e esportivo do nosso jogo, relatando como se comportam os torneios em face de sua força.

A tradução foi feita do es.chessbase.com e é pertinente no sentido da aquisição cultural de certas práticas que parecem ser exclusivas a quem está no meio delas. Contudo, ao grande público muito é restrito e pouco saliente, assim, para efeito de ajudar na propagação da boa informação, ei-la.

Que a força esteja com todos e boa leitura!

Fábio da Rocha

Presidente do Clube de Xadrez Scacorum Ludus

 

25/09/2020 - Fatos e acontecimentos, ao lado de seus heróis e feitos, marcaram épocas distintas, impregnando-os da peculiaridade de sua respectiva marca pessoal, porém, todos eles seguindo as mais diversas tonalidades, se encarregaram de propiciar e potenciar a grande mudança qualitativa experimentada pelo xadrez, abandonando os caprichos do acaso e os caprichos do mero jogo de salão, para se tornar, em virtude de sua essência e força intrínseca, um esporte moderno e rei dos jogos. Artigo de Romelio Milián González; Foto: John Saunders e tradução de Fábio da Rocha. (https://es.chessbase.com/post/el-alucinante-mundo-de-los-supertorneos-por-romelio-milian-gonzalez)



O enorme número de competições realizadas de 1851 a dezembro de 2019 é avassalador, mas apenas 747 delas conseguiram alistar jogadores de xadrez de elite em suas fileiras, alcançando assim uma categoria superior, utilizando as mais variadas variantes de torneios. Assim, mais uma das muitas arestas do jogo da ciência fica exposta aos nossos olhos e quando olhamos por esta janela curiosa para o exterior, podemos ser testemunhas excepcionais das sutilezas e espetacularidade do fantástico mundo dos super torneios.

Nos anais enxadrísticos repousa a memória viva do jogo nobre e com ela toda a história deslumbrante e rica do seu surgimento, onde a lenda desempenhou um papel inédito, em total cumplicidade com a profundidade dos séculos, ainda reservando incógnitas que o fazem vacilar para a certeza em relação ao conhecimento exato de seus primeiros passos. No entanto, sobre a sua evolução posterior são abundantes os detalhes que nos permitem refazer, passo a passo, o seu desenvolvimento histórico, tendo completado o seu primeiro sesquicentenário de existência e passando também pelas suas três primeiras décadas no século XXI.

O que é um super torneio? 

Pesquisar em qualquer uma das magníficas enciclopédias onde o conhecimento universal sobre o nome do jogo é precioso, não haveria sucesso, pois não encontraríamos uma definição ou pelo menos uma tentativa capaz de responder à nossa pergunta. Por este motivo, a sua conceituação é necessária e para isso utilizamos o sistema elo, com as suas inúmeras vantagens e inúmeras desvantagens.

Este instrumento estatístico, que também pode ser aplicado em outras modalidades esportivas, foi oficialmente homologado pela FIDE no Congresso de Siegen, em 1970. Um estudo detalhado sobre sua aplicação em diferentes épocas traz resultados de grande interesse, mas uma constante está claramente evidenciada, todos os jogadores pertencentes à vanguarda invariavelmente, pelo menos em algum momento de suas respectivas carreiras, alcançaram 2600 ou mais em seu rating pessoal. Se fizermos uma busca dos principais enxadristas da década de 1970/1979, ficaremos surpresos em saber que a cifra de 18 jogadores (em 1974) nunca foi superada com esse algarismo, porém, até então, Bobby Fischer tinha conseguido ser o primeiro a ultrapassar a marca de 2700. Depois, a partir de 1974, iniciou-se um lento, mas sustentado assalto de 15 Grandes Mestres que fizeram méritos suficientes para serem incluídos no Clube dos 2700, entre eles, que chegariam, nos respectivos momentos, para se tornarem inquilinos reais, Karpov, Tahl, Kasparov (ele estava feliz, pois conseguiu ultrapassar a barreira de 2800 em 1990), Anand, Kramnik e Topalov. No entanto, nas seguintes décadas apreciou-se um significativo incremento no número de enxadristas que tinham ultrapassado a marca dos 2600, para adquirir sua carteira de membro na elite do mundo enxadrístico e que continuavam avançando com grande ambição para ultrapassar os 2700 e sonhar com os 2800, sem dúvida, uma carreira incrível, onde muitos foram os candidatos, mas poucos foram escolhidos.

 

Ao fazer um tour histórico pelas listas Elo, vemos que apenas 123 jogadores de xadrez, de Enmanuel Lasker (1897) a Kiril Alekseenko (2019), conseguiram ultrapassar 2700, enquanto os 2800 só conseguiram ultrapassar 13. É fácil entender que ao redor de 250 jogadores tenham conseguido adquirir, em algum momento de suas carreiras esportivas, os 2600 ou mais.

Ora, na minha opinião, um super torneio é qualquer evento em que 3 ou mais jogadores se enfrentam e a média de seus respectivos Elo varia entre 2576 e 2600, portanto, este conceito será aplicável em todas as competições que se classificam como CAT XIV em diante.

A título de curiosidade, apresento-lhes a TABELA I, onde podem ver os primeiros torneios realizados na história do jogo ciência, de acordo com as respectivas categorias. O primeiro desses clássicos foi realizado no final do século 19 em São Petersburgo 1895/6 e atingiu a CAT XV, de acordo com a escala do Elo. Desde então e até o final de 2019, foram realizados 747 eventos dessa natureza em todo o planeta.

A TABELA II é um convite para observar a evolução lenta, mas sustentada, pela qual os super torneios tiveram que passar para aumentar sua força historicamente. Porém, através da sua leitura, ficam evidentes aspectos cujas arestas são interessantes e curiosas, vejamos:

• O xadrez moderno, ao atingir seu centenário de vida, só conseguiu realizar 13 eventos com CAT XIV ou mais.

• Em seu primeiro torneio do sesquicentenário, o xadrez conseguiu aumentar o número para 268, mas durante a última década do século 20, 170 torneios foram realizados, mas ou mais impressionante aqui acabou sendo que, entre 1991/2000, eles foram disputados pela primeira vez de CAT XVIII a XXI, graças ao qual esta década é considerada o "Big Bang" nos anais do jogo nobre.

• A primeira década do século 21 apresentou um aumento significativo no número de super torneios realizados, basta observar que foram contabilizados 228 deles e, pela primeira vez, o mundo assistiu a um torneio com o CAT XXII.

• El lustro 2011/2015 também foi produzido na realização destes certames extraclasse ao contar com 146. Aqui o anedótico e curioso, ocorreu por conta da atividade realizada pelos organizadores em 2014, quando foram realizados 31 destes eventos, a maior cifra jamais alcançada. Contudo há mais, nesse mesmo ano se realizariam torneios que visitaram todas as categorias reconhecidas pela FIDE, da XIV até a XXIII, esta última fazendo sua estreia em Saint Louis e Zurich respectivamente.

• Para conseguir aumentos na categoria de torneios, os organizadores deram prioridade à formação de escalações com poucos jogadores, sempre de elite, que terão de se enfrentar, pelo menos, duas vezes. Chegaram até a adotar a alternativa de convidar um número ímpar de jogadores, garantindo dias de folga adicionais e conseguindo encurtar a duração do torneio.

É possível conseguir normas de GM nesses eventos?

Embora pareça paradoxal, a resposta é um retumbante sim, mas a conquista dela pressupõe a ocorrência de vários fatores, entre estes o de que o aspirante à sigla GM nem sempre tem acesso para jogar em um super torneio, bem porque o Elo baixaria a média do mesmo ou que não foi convidado por não ser cidadão do país organizador. Depois de cumprir estes "procedimentos", fica ainda mais difícil para o enxadrista, jogar bem!

Antes de 1970, quando a FIDE ainda não havia adotado o Elo para outorgar títulos de acordo com a categoria dos torneios, apenas Aivar Gipslis havia obtido seu pergaminho em um super torneio, aquele realizado em Moscou/67 (CAT XIV), onde ocorreu uma fantástica luta, ao concluir invicto com 10 pontos em 17, empatando as posições do 2º ao 5º lugar.

Parece existir uma predileção especial dos MIs para se desempenharem bem em torneios da CAT XIV e alcançar normas de GM, como ocorreu nos casos de Vladimir Tukmakov, (exURSS) en Moscú/71; Oliver Renet (FRA) em Clermont-Ferrand/89; Vladimir Epishin (ex URSS) en el 57 Ch.URSS Leningrado/90; Gerard Hertneck (GER) em Munique/91; Vladimir Kramnik (RUS) e Igor Jenkin (ISR) no 3er Chalkidiki/92; Friso Nijboer (HOL) em Groninga/92; Peter Leko (HUN) 56 Wijk aan Zee/94; Alexander Morozevich (RUS) em Alushta/94; Andrei Volokitin (UKR) em Portoroz/01; Ding Liren (CHN) en Ch.China/09; Diego Alsina (ARG) em Barcelona/09; Jean-Francois Jolly (FRA) em 91th Ch.Francia/16 e Haik M.Martirosyan (ARM) em 77th Ch.Armenia/17.

Como casos significativamente destacados e que saem dessa categoria para ganhar as normas, estão o russo Marat Makarov em Novosibirsk/95, o francês Etienne Bacrot em Enghien les Bains/99 e o armênio Manuel Petrosian no lago Sevan/17, todos eles na CAT XV. É interessante destacar as ações dos espanhóis Miguel Illescas e Pablo San Segundo, que foram honrosas exceções à regra. Miguel alcançou sua primeira norma em Linares/88, que alcançou a CAT XV, enquanto Pablo alcançou seu feito na Comunidad de Madrid/95, evento CAT XVI, obtendo em ambos os casos 50% dos pontos em disputa.

Muitos ou poucos jogos com vitória?  

Os torneios de alto nível costumam ser aplaudidos ou criticados por fãs, tanto os amantes de café quanto aqueles com conhecimento mais sólido. Aqueles que se opõem, o fazem pelo número alarmante de empates que ocorrem neles. Basta notar aqui que quando se fala de elite, onde a correlação de forças entre os competidores e seu coeficiente de elo é muito homogênea, seria de se esperar resultados tendendo à nulidade, porém, nem sempre se obtém grande número de empates. Como era de se esperar, pois sempre, a engenhosidade humana consegue cumprir a certeza do provérbio popular ao decidir “que não há regra sem exceção”.

Um estudo estatístico desses 747 eventos nos fornece resultados de grande interesse, que podem ser vistos na tabela III. Uma breve análise nos mostra os quão equivocados estão aqueles que pensam e falam contra os super torneios por considerá-los enfadonhos e onde o número alarmante de empates atrapalhe o interesse, tanto dos especialistas como dos fãs. Isso é, sem dúvida, um sofisma. Quando analisamos os resultados globais nos eventos que militam entre as categorias XIV e XVII, pode-se perceber, em todos os casos, que os índices de jogos definidos ultrapassam, em muito, 50% de eficácia em jogos definidos. Ainda no XVII, a maior eficácia foi alcançada com 58,7%, já que 47 dos 80 eventos ultrapassaram 45% dos jogos definidos. Agora, quando analisamos as lides das categorias XVIII a XXII, apreciamos valores percentuais que estão bem distantes da média e tornam-se significativamente baixos, principalmente nas categorias XXI e XXII. Por exemplo, se analisarmos o período 2015/2019, as últimas 23 competições realizadas com essas categorias, nenhuma delas sequer, chegaram perto de 40% dos jogos definidos.

É válido lembrar que, durante o século XX, o máximo e o mínimo nos super clássicos mostraram uma preferência marcante pela CAT XV, já que em Naumheim-Stuttgart/37, Max Euwe venceu com 4 pontos em 6 possíveis, mas dos 12 jogos disputados 10 delas terminaram em vitórias, para respeitáveis ​​83,3%; entretanto, o reverso da medalha ocorreu em Ter Apel/94, quando 13 dos 15 jogos terminaram com divisão do ponto e péssimos 13,3% de jogos com vencedor. Aqui Rustam Dautov ocupou o lugar de honra. Mas tem mais, já que neste século houve um CAT XVIII, em Dortmund/04, onde seus 12 jogos terminaram empatados. Até agora, a categoria mais alta alcançada em torneios tem sido a XXIII, conquistada em 2014, no II Sinquefield Cup em Saint Louis (EUA) e no Zurich CC Classical (SUI), mas o impressionante aqui foi o fato de que no clássico americano foram 46,7%, graças ao fato de que dos 30 jogos realizados, 14 tiveram um vencedor, enquanto no evento europeu, 53,3% foi conquistado, com 8 vencedores sendo proclamados nas 15 partidas realizadas.

Ao entrar no mundo dos super torneios, devemos considerar que a força de seus integrantes é alta e homogênea, por isso, obter um desequilíbrio nos jogos, suficiente para alcançar a vitória, é muito difícil, por isso, que se dos 20 jogos realizados nesses clássicos, pelo menos 9 tivessem vencedor, ou seja, 45% das definições, poderíamos considerar que foi alcançado um resultado altamente positivo.

Qual foi o mais forte de todos?

O leque de possibilidades para formar um torneio de elite apresenta um amplo espectro, onde o número de participantes e o número de jogos entre eles desempenham um papel determinante. É por isso que decidir o veredicto "mais forte" é extremamente delicado e extremamente difícil. Só a adoção de uma filosofia aberta e com grande dose de flexibilidade nos permitirá estabelecer os nexos necessários.

Como se pode observar na tabela II, a grande maioria dos super torneios até 2000 estavam classificados entre as categorias XIV a XVIII, 255 no total, mas durante a década de despedida do século XX, foram realizadas 13 competições que estão incluídas entre categorias XIX e XXI respectivamente.

Na TABELA IV, você pode ver os 20 super torneios mais fortes de todos os tempos de acordo com seu Elo médio descendente, mas o curioso é que não aparecem eventos realizados no século 20, nem, já neste século, os realizados entre 2001 e 2009. Não é mera coincidência que 2 dos 5 primeiros eventos mais fortes de todos os tempos, tenham ocorrido entre poucos jogadores com rodada dupla, fórmula esta muito útil para este mundo de categorias estelares, um aspecto que favorece a concentração de forças de forma otimizada. Provavelmente, se insiste em utilizar esta alternativa e graças ao número crescente de jogadores que conseguem ultrapassar com sucesso a invejável cifra dos 2700 e, embora contados, já existem aqueles que perseguem os militares no seleto Clube dos 2800, então, espere, talvez antes de concluir o primeiro quartel do século XXI, um torneio da categoria XXIV !!.

A meu ver, os torneios com 10 ou mais jogadores merecem uma atenção especial, pois uma breve reflexão permitiria entrar em contato com as enormes armadilhas e dificuldades de todo o tipo que os organizadores têm de ultrapassar para reunir uma verdadeira constelação de estrelas, conseguindo, além disso, uma média Elo extremamente alta. Por exemplo, deve-se destacar que CAT XXII inclui os realizados em Stavanger (NOR) em 2015 e 2019; Sinquefield Cup (EUA) em 2015, 2017 e 2019; Zagreb (CRO) em 2019 e Londres (ENG) 2015 e 2016, todas com uma dezena de enxadristas.

Se mergulharmos um pouco na história, lembraremos da excelente atuação de Karpov no XII Ciudad de Linares 1994, onde se reuniram as principais celebridades do mundo, atingindo a inusitada cifra de 63,7% no índice de jogos definidos e onde Anatoli conseguiu estabelecer um recorde sensacional para estes campeonatos CAT XVIII, obtendo uma rating de desempenho (performance) de 2977. Também aqui se produziu uma marca de difícil acesso, quando Karpov alcançou a pontuação perfeita nas primeiras 6 rodadas. No reverso da medalha de “Tolia”, se apresenta com a marca mais adversa de derrotas sucessivas no mundo dos super torneios, que pertence ao islandês Johann Hjartarsson com 10, estas ocorreram nas últimas 6 rodadas do VII Ciudad de Linares e nas 4 primeiras do Memorial Euwe em Amsterdã, ambos com nível do CAT XVI e realizados em 1989.

Seria imperdoável não ecoar aqui a magnífica atuação de Veselin Topalov ao se proclamar campeão mundial em San Luis Argentina 2005, quando marcou 6,5 pontos nas primeiras 7 rodadas (empatado na segunda contra Anand) e o fantástico trabalho de Fabiano Caruana no II Sinquenfield (EUA), quando de 27 de agosto a 3 de setembro de 2014, conseguiu somar sete vitórias consecutivas, nada mais e nada menos, do que no segundo clássico mais forte de todos os tempos.

Quem ganhou mais super torneios? 

Já se sabe que os eventos estelares alcançaram grande notoriedade a partir dos anos 80, porém sua explosão espetacular ocorreu nos anos 90. Agora, com o advento do século 21, esse fenômeno atingiu patamares insuspeitos, como era de se esperar.

Apresento a vocês a TABELA V onde relato o avatar dos campeões mundiais em suas intervenções nesses grandes clássicos. Isso porque, com senso de justiça, cada monarca dominou uma época inteira, demonstrando ser pelo menos o primeiro entre seus iguais. Claro, especialistas ou não, concordamos que nenhuma regra pode se orgulhar de não ter exceção.

Dos 20 reis de sempre, apenas a trilogia formada por Wilheim Steinitz, Alexander Alekhine e Robert Fischer, nunca alcançou qualquer unanimidade nestes eventos, embora para ser honesto, suas participações foram muito raras.

Quanto à frequência de vitórias em eventos extraclasse com base em suas intervenções, as conquistas de Kasparov são impressionantes e espetaculares, que alcançou uma vitória a cada 1,28 torneios e venceu 78% dos 50 torneios que disputou. Também para recordar foi a atuação de Enmanuel Lasker, já que ganhava um torneio a cada 1,33, embora participasse apenas em quatro deles. Esta troika original é encerrada pelo atual soberano do xadrez mundial Magnus Carlsen, que até dezembro de 2019 tinha vencido em todos os torneios de 1,83 que participou, ou seja, triunfou em 54,7% dos 75 eventos que disputou.

Carlsen, um verdadeiro filho do seu tempo, já participou em 40 super torneios correspondentes às categorias XXI a XXIII, vencendo 23 deles, o suficiente para uma eficiência de 57,5%. Outra forma de interpretar esses resultados seria ver como nos de categoria XXI e XXIII ele conquistou a vitória em 50% dos casos, enquanto na XXII está em 63,6%. Com base na sua juventude e proverbial força do jogo, é de se esperar que em um futuro muito próximo ele seja capaz de igualar e até mesmo superar o mítico “Ogro de Baku”.

Kasparov tem a melhor frequência de vitórias em super torneios. Carlsen, por enquanto, está no encalço dele.

É compreensível considerar que o xadrez, como o cinema, tem um "sistema estelar" que coexistiu com todos os monarcas que reinaram e que conseguiram triunfar em eventos de alto nível.

O GM soviético Leonid Stein (1934/1973) participou apenas de três eventos CAT XIV, dois deles realizados em Moscou 1967 e 1971 e em Los Angeles 1968, porém teve o imenso privilégio de obter ou dividir o primeiro lugar em todos eles. Outros da "velha guarda" que se destacaram nesta categoria, como vencedores consistentes, foram o armênio Rafael Vaganian e o russo Eugeni Bareev.

Entre os jogadores "históricos" e que foram vencedores reiterados em partidas do CAT XV estão Alexander Beliavsky e Jan Timman. Já nas CAT XVI e XVII, o ucraniano Vasili Ivanchuk tem se destacado como conquistador das primeiras colocações. Os CAT XVIII e XIX têm seu charme e nos causa admiração lembrar que nos dois primeiros com CAT XVIII, Reggio Emilia e Moscou, ambos em 1992, o ex-campeão mundial Vishy Anand triunfou, enquanto no CAT XIX, Dos Hermanas e Novgorod Tanto em 1996, o então jovem Veselin Topalov, atualmente ex-rei do mundo, venceria. Já no século XXI, o francês Maxime Vachier-Lagrave mostrava uma predileção singular por jogar na bela cidade suíça de Biel, em seus torneios da categoria XIX, onde venceria de forma justa nas edições correspondentes a 2009, 2013, 2014 e 2015 .

Após boa parte deste século, observa-se que algumas das competições mais poderosas nem sempre são conquistadas pelo monarca ou por quem foi inquilino da casa real, mas por jovens gladiadores, que, com coragem e valentia, buscam a coroa mundial, graças a isso eles realizaram seu sonho de tocar a fama com as mãos. Entre todos eles se destacam um trio formado por Sergei Karjakin (6 triunfos em eventos da categoria XX a XXII); Levon Aronian (12 vitórias em categorias semelhantes) e Fabiano Caruana, que conseguiu vencer 9 partidas entre as categorias XX a XXIII.

Curiosamente, entre os jogadores que constituíram o firmamento do xadrez dos anos 60 e 70, o dinamarquês GM Bent Larsen, que apesar de reconhecido vencedor em torneios internacionais nunca conseguiu a vitória em 18 que participou, ganhou o recorde nada invejável de terminar no porão em 6 deles.

Romelio Milián González, 24 de setembro de 2020

 

 

TABELA I 

OS PRIMEIRO SUPER TORNEIOS SEGUNDO SUAS CATEGORIAS 


CAT

ELO

TORNEO

1 LUGAR

2 LUGAR

3 LUGAR

% (1-0)

XIV

2597,5

Berlín(Kierkav-Palast) IX-X/1918 GER

Em.Lasker

Rubinstein

Schlechter

5/12 41,7

XV

2615

San Petersburgo XII-I/1895-6 RUS

Em.Lasker

Steinitz

Pillsbury

25/36 69,4

XVI

2628

San Petersburgo(final) V/1914

Em.Lasker

Capablanca

Aliojin

15/20 75,0

XVII

2658,1

A.V.R.O. Amstetrdam XI/1938 HOL

Fine

Keres

Botvinnick

24/56 42,9

XVIII

2676

XXXIV Regio Emilia XII-I/1991-2 ITA

Anand

Gelfand

Kasparov

21/45 46,7

XIX

2714,5

VIII Ciudad Dos Hermanas V-VI/1996 ESP

Kramnik

Topalov

Anand

20/45 44,4

XX

2735,1

XVII Ciudad Linares II-III/1999 ESP

Kasparov

Kramnik

Anand

20/56 35,7

XXI

2756,7

Gran Canaria XII/1996 ESP

Kasparov

Anand

Kramnik

11/30 36,7

XXII

2788,7

Bilbao Masters X/2010 ESP

Kramnik

Anand

Carlsen

4/12 33,3

XXIII

2800,8

Zurich Chess Classic I-II/2014 SUI

Carlsen

Aronian

Caruana

8/15 53,3

 

 

 

 

 

 

 

 

  

TABLA II CATEGORÍAS


AÑOS

XIV

XV

XVI

XVII

XVIII

XIX

XX

XXI

XXII

XXIII

TOTAL

1851/1900

-

1

-

-

-

-

-

-

-

-

1

1901/1950

4

4

2

2

-

-

-

-

-

-

12

1951/1970

2

6

2

-

-

-

-

-

-

-

10

1971/1980

8

8

1

-

-

-

-

-

-

-

17

1981/1990

29

14

13

2

-

-

-

-

-

-

58

1991/2000

43

34

31

30

19

9

1

3

-

-

170

2001/2010

34

41

41

24

28

22

24

13

1

-

228

2011/2015

20

22

9

13

15

17

18

16

14

2

146

2016/2020

19

10

16

9

13

6

9

10

13

-

105

Totales

159

140

115

80

75

54

52

42

28

2

747

Nota: no estão incluídos os resultados de 2020, devido à situação universal pela covid-19.

TABELA III

O numerador representa a quantidade de torneios com 45% ou mais de partidas concluídas com vitória. O denominador significa a quantidade de torneios com essa categoria celebrados desde 1985 até dezembro de 2019. 

CATEGORÍA

TORNEOS CON 45 % (1-0)

PORCENTAJE

XIV

88/159

55,3

XV

75/140

53,6

XVI

63/115

54,8

XVII

47/80

58,7

XVIII

27/75

36,0

XIX

19/54

35,2

XX

17/52

32,7

XXI

6/42

14,3

XXII

4/28

14,3

XXIII

2 / 2

100


TABELA IV – OS VINTE SUPER TORNEIOS MAIS FORTES   ATÉ O MOMENTO. (SEGUNDO O ELO)

 

#

AÑO

TORNEO

CAT

ELO

1ER LUGAR

2DO LUGAR

3ER LUGAR

% (1-0)

1

2014

II Sinquenfield Saint Louis         USA

XXIII

2801,67

Caruana

Carlsen

Topalov

14/30 46,7

2

2014

Zurich CC Classical                   SUI

XXIII

2800,63

Carlsen

Aronian

Caruana

8/15 53,33

3

2017

5th Norway Chess Stavanger NOR

XXII

2797,2

Aronian

Nakamura

Kramnik

14/45 31.1

4

2013

I Sinquenfield Saint Louis          USA

XXII

2797

Carlsen

Nakamura

Aronian

6/12  50,0

5

2015

III Sinquenfield Saint Louis        USA

XXII

2794,6

Aronian

Giri

Carlsen

19/45 42,2  

6

2018

6th Norway Chess Stavanger NOR

XXII

2790,5

Caruana

Nakamura

Anand

11/42 26,2

7

2010

Bilbao Masters                            ESP

XXII

2788,75

Kramnik

Anand

Carlsen

4/12 33,3

8

2017

5th Sinquefield Saint Louis USA

XXII

2787,8

Vachier-Lagrave

Carlsen

Anand

17/45 37.8

9

2018

Candidatos FIDE Berlín GER

XXII

2786,6

Caruana

Mamedyarov

Karjakin

20/56 35,7

10

2013

Candidatos Londres                    ENG

XXII

2786,5

Carlsen

Kramnik

Svidler

25/66 44,6

11

2015

VII Grand Slam Bilbao                ESP

XXII

2785,75

So Wesley

Giri

Anand

2/12 16,7

12

2015

VII Londres Chess Classic          ENG

XXII

2785,4

Carlsen

Giri

V.Lagrave

10/45 22,2

13

2016

VIII Londres Chess Classic        ENG

XXII

2785,2

So Wesley

Caruana

Kramnik

15/45 33,3

14

2015

IV Zurich                                   SUI

XXII

2784

Anand

Nakamura

Kramnik

4/15 26,7

15

2019

7th Norway Chess Stavanger NOR

XXII

2783,8

Carlsen

Ding Liren

So Wesley

11/45 24,4

16

2019

VII Sinquefield Saint Louis USA

XXII

2782,5

Ding Liren

Carlsen

Anand

12/66 18,2

17

2015

III Norway Chess Stavanger        NOR

XXII

2781,9

Topalov

Anand

Nakamura

20/45 44,4

 18

2012

V Final Masters SaoPaulo/Bilbao BRA-ESP

XXII

2781,7

Carlsen

Caruana

Aronian

10/30 33,3

 19

2019

Croacia GCT Zagreb    CRO

XXII

2781,7

Carlsen

So Wesley

Aronian

19/66 28,8

20

2011

IV Final Masters Bilbao/Sao Paulo ESP-BRA

XXII

2780,2

Carlsen

Ivanchuk

Nakamura

16/30 53,3


 

TABLA V – CAMPEÕES MUNDIAIS GANHADORES DE SUPER TORNEIOS

NOTA: O NUMERADOR INDICA PRIMEIROS LUGARES ALCANÇADOS; ENQUANTO QUE O DENOMINADOR REPRESENTA O NÚMERO DE TORNEIOS ONDE PARTICIPOU.

 

NOMBRE

XIV

XV

XVI

XVII

XVIII

XIX

XX

XXI

XXII

XXIII

TOTAL

1

Wilheim Steinitz

-

0/1

-

-

-

-

-

-

-

-

0/1

2

Enmanuel Lasker

1/2

1/1

1/1

-

-

-

-

-

-

-

3/4

3

José Raúl Capablanca

1/2

1/1

0/1

0/1

-

-

-

-

-

-

2/5

4

Alexander Aliojin

0/1

0/2

0/1

0/1

-

-

-

-

-

-

0/5

5

Max Euwe

0/1

1/1

0/1

0/2

-

-

-

-

-

-

1/5

6

Mijail Botvinnick

1/1

1/2

-

1/2

-

-

-

-

-

-

3/5

7

Vasili Smislov

0/11

1/5

1/2

0/1

-

-

-

-

-

-

2/19

8

Mijail Tahl

0/8

2/8

0/2

-

-

-

-

-

-

-

2/18

9

Tigran Petrosian

0/5

2/7

1/2

-

-

-

-

-

-

-

3/14

10

Boris Spassky

2/13

3/13

0/2

-

-

-

-

-

-

-

5/28

11

Robert J. Fischer

-

0/2

0/1

-

-

-

-

-

-

-

0/3

12

Anatoli Karpov

15/19

9/16

10/17

0/10

4/14

0/3

-

0/1

-

-

38/80

13

Gari Kasparov

4/4

4/6

5/6

8/9

7/10

5/6

4/6

2/3

-

-

39/50

14

Alexander Jalifman

2/6

2/10

1/7

0/5

0/3

-

-

0/1

-

-

5/32

15

Vladimir Kramnik

2/2

-

0/1

6/11

4/18

3/21

8/19

3/16

2/9

-

28/97

16

Vishwanathan Anand

0/1

1/1

1/3

4/9

7/17

7/14

1/16

5/18

3/21

-

29/100

17

Ruslan Ponomariov

-

1/4

3/6

2/6

1/5

0/8

2/15

0/4

-

-

9/48

18

Rustam Kasindzhanov

-

1/1

3/7

0/2

0/2

0/4

0/5

0/4

-

-

4/25

19

Veselin Topalov

2/2

2/3

0/3

3/10

4/13

5/15

5/13

5/20

1/7

0/1

27/87

20

Magnus Carlsen

-

1/2

0/2

1/2

2/3

7/9

7/17

8/16

14/22

1/2

41/75

 


Comentários

Postagens mais visitadas