O xadrez é um jogo e seu campo, a mente

 


Prezados/as Enxadristas e comunidades,

O Dr. Uvencio Blanco reforça o conceito lúdico do xadrez e relaciona-o como uma atividade humana ou expressão cultural universal. Suas regras, sua história e seus públicos.

Uma leitura interessante!

Que a força esteja com todos!

Fábio da Rocha

Presidente do Clube de Xadrez Scacorum Ludus

 

30/09/2020 - O termo "jogo" refere-se a uma atividade humana ou expressão cultural universal, cujo objetivo último é a diversão e o prazer derivados de sua prática. Apresenta um conjunto de regras próprias e, como atividade vital, pode continuar ao longo da vida. Desde tempos imemoriais, o jogo faz parte do comportamento e da cultura de todos os grupos humanos. Crianças de todos os tempos e lugares brincaram (jogaram), sozinhas ou em grupos. Portanto, é uma atividade humana natural. Artigo do Dr. Uvencio Blanco. | Na foto: Ding Liren e Maxime Vachie-Lagrave | Foto: Lennart Ootes (Grand Chess Tour 2019) | Tradução: Fábio da Rocha via https://es.chessbase.com/post/el-ajedrez-es-un-juego-y-su-campo-la-mente-articulo-por-uvencio-blanco

 

No começo foi o jogar

·         Desde tempos imemoriais, o jogo faz parte do comportamento e da cultura de cada grupo humano; portanto, é uma atividade humana natural.

·         O xadrez é um jogo de estratégia; porque contribui para o desenvolvimento da capacidade de concentração, do pensamento tático e da vontade, na tomada de decisões e em situações complexas ou incertas.

·         Desde sua origem remota, o xadrez acompanhou o nascimento, desenvolvimento e queda de muitas civilizações; e sobreviveu a eles, evoluiu tanto em sua estrutura e formas, quanto em suas regras e alcance universal.

No entanto, o jogo vai além da diversão; é uma atividade atrativa, voluntária e espontânea; uma forma de as crianças testarem seus limites (o que são, o que podem fazer e até onde ir), se envolver em novas experiências e aprender sobre si mesmas e sobre os outros.

Da mesma forma, a estreita relação que existe entre os conceitos de jogo e cultura é notável. Na verdade, Huizinga (1938), afirmava que o jogo é mais antigo que a cultura; então a civilização surge e se desenvolve no jogo. Por sua vez, Corsaro (1985) aponta que os jogos que fazemos criam um vínculo cultural comum que liga as crianças às gerações anteriores; mas também cria um vínculo cultural entre as próprias crianças.

Xadrez como um jogo

O xadrez é conceituado como um jogo de estratégia; ou seja, pertence ao grupo que contribui para o desenvolvimento da capacidade de concentração, do pensamento tático e da vontade, por meio da tomada de decisões e no decorrer de situações complexas ou de incertezas.

Essas atividades são utilizadas principalmente, no exercício de estratégias de pensamento, dentro dos métodos heurísticos que a pedagogia define como “técnicas para aprender a aprender”.

Pela sua importância do ponto de vista pedagógico, voltamos a insistir que, como jogo, o xadrez cumpre uma série de características próprias dos jogos; a saber:

É uma atividade voluntária

O jogo surgiu universalmente. Está presente em todos os seres humanos e, portanto, em todas as culturas e na expressão de todas as crianças em desenvolvimento normal. Em todas as civilizações e lugares, as crianças brincam assim que surge a oportunidade, fazendo-o de forma totalmente natural e voluntária. Faz parte de suas vidas e talvez seja uma das poucas coisas que elas podem decidir por si próprias. Nesse sentido, como jogo, o xadrez é um ato voluntário, desinteressado e inconsequente.

Apresenta um propósito específico

Jogar xadrez faz com que o sujeito se divirta e obtenha prazer com sua prática. Isso implica que está relacionado ao bem-estar psicológico, razão pela qual tende a reduzir os riscos de sofrer alguns agravos à saúde - tanto físicos quanto mentais - como estados de tensão e ansiedade. Além disso, este jogo tem um efeito ansiolítico que melhora os estados de irritabilidade e agressividade.

Tem limites

O jogo de xadrez se expressa em um momento, contexto e lugar específicos. Além disso, à medida que se desenvolve, o jogador é regido por certas regras diferentes das do dia a dia. O respeito pelas regras e objetivos é essencial para o desenvolvimento e a integração social.

É regulamentado

A ordem interna, típica do xadrez, é organizada em torno de uma série de ações que determinam um conjunto de regras explícitas; o que gera uma realidade diferente do cotidiano. Por sua vez, o reconhecimento das normas contribui para o desenvolvimento do autocontrole em seus praticantes.

Modela o caráter

O jogo é um fator de desenvolvimento da pessoa, pois se torna um estilo de vida que leva o indivíduo a fazer sua vocação e, em muitos casos, sua profissão. Nesse sentido, a prática regular do jogo de xadrez estimula a disciplina de seus jogadores; que tendem a ser mais organizados, estruturados, pontuais, respeitosos e menos propensos a cair em maus hábitos; portanto, esse comportamento pode se tornar um fator no desenvolvimento pessoal.

O jogo de xadrez é uma forma pela qual hábitos virtuosos e padrões de caráter facilitam a inserção de seus jovens praticantes na esfera pública da vida adulta, principalmente na integração ao mundo do trabalho. Portanto, é uma oportunidade para o desenvolvimento do caráter, entendido como “um conjunto de valores de ação moral”.

Estimula habilidades cognitivas

Uma das características mais marcantes do jogo de xadrez e com amplas aplicações pedagógicas está relacionada ao estímulo que essa atividade exerce na expressão de certas habilidades cognitivas. Pesquisas importantes sugerem que o jogo de xadrez facilita o desenvolvimento de habilidades brandas, como imaginação, criatividade e a capacidade para o planejamento e resolução de problemas. 

Promove valores

O jogo é uma ferramenta adequada para ensinar a todos, mas principalmente aos mais jovens, valores e virtudes como justiça, lealdade, aperfeiçoamento, convivência, respeito, camaradagem, trabalho em equipe, disciplina, responsabilidade e tolerância.

O jogo é um fator de desenvolvimento da pessoa, pois se torna um estilo de vida que leva o indivíduo a fazer sua vocação e, em muitos casos, sua profissão. Nesse sentido, a prática regular do jogo de xadrez e devido ao seu forte caráter social, estimula a disciplina de seus jogadores; que tendem a ser mais organizados, estruturados, pontuais, respeitosos e menos propensos a cair em maus hábitos; portanto, esse comportamento pode se tornar um fator no desenvolvimento pessoal.

Tem função terapêutica

O valor terapêutico do xadrez não se encontra apenas no prazer da própria diversão, mas também em sua capacidade de funcionar como um elemento liberador de tensão e energia retida.

Da mesma forma, observa-se que crianças que jogam xadrez tendem a apresentar maior autoestima, sofrem menos depressão e ansiedade. Além disso, esta atividade contribui para a convivência ao obrigar o jogador a trabalhar em equipe, a colaborar com os outros e a aprender que a força está na união de muitos.

Finalmente, o jogo de xadrez atua como uma terapia não farmacológica eficaz para reduzir o estresse, distúrbios do sono, depressão, ansiedade e outros distúrbios que surgem ao longo da vida.

Assume uma função social

O jogo de xadrez estimula o desenvolvimento de certas habilidades cognitivas e favorece o pensamento simbólico; o que facilita sua ação civilizatória ao contribuir para a integração do indivíduo à sua cultura. Isso implica que este jogo promove o desenvolvimento e a integração social de seus praticantes, pois, como jogo, é um meio de interação do indivíduo com os demais, alcançando níveis de integração que quase nenhuma outra atividade consegue alcançar, com tudo o que isso implica na construção do indivíduo como ser social.

No jogo e em particular no xadrez, não existem cores, raças, credos, sexos ou estratos sociais, por isso os enxadristas são incutidos no respeito, reconhecimento e tolerância pelas diferenças entre as pessoas.

Evolui

Não existe grupo humano no qual o jogo não exista; observando que evoluiu junto com tais grupos ao longo da história. De acordo com Boyd, R. e Ricerson. P. (2005),

A cultura... é constituída pelo conjunto de ideias, habilidades, valores, crenças, linguagens e atitudes que podem ser adquiridas por meio da imitação, do ensino e de outras formas de aprendizagem social indireta, como, por exemplo, a facilitação social da atenção a determinadas ações ou objetos. A cultura é a informação que se transmite e que condiciona o comportamento que os indivíduos desenvolvem ”.

Por sua vez, Huizinga (1990), afirma que o jogo é anterior a qualquer cultura, portanto é necessário voltar aos primeiros colonizadores do planeta Terra; além disso, indica que

Houve um fator de competição lúdica, mais antigo do que a própria cultura, que permeia toda a vida na forma de um fermento cultural, então podemos dizer que a brincadeira/jogo foi parte integrante da civilização em seus estágios iniciais. A civilização surge com o jogo e como um jogo, para nunca mais ser separada dele.

Visto como um jogo, desde sua origem remota no Egito, Índia, Pérsia, China ou Irlanda, o xadrez acompanhou o nascimento, desenvolvimento e queda de muitas civilizações, e sobreviveu a elas evoluindo tanto em sua estrutura e formas, quanto em suas regras e alcance universal durante um período de tempo superior a 30 séculos.

Fonte: Blanco, U. (2020) “Xadrez, herança cultural da humanidade” (Blanco, U. (2020) “Xadrez, ciência cognitiva e educação”)

 

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