Prezados/as Enxadristas e Comunidades,
Na sequência de artigos do Dr.
Uvencio Blanco, na plataforma do Chessbase.com, segue-se a temática as pesquisas
com enfoque cognitivo. Dessa vez, a proposta é sobre o uso de neuroestimuladores ou potencializadores.
Boa leitura a todos!
Que a força esteja conosco!
Fábio
da Rocha
Presidente do Clube de Xadrez
Scacorum Ludus
16/12/2020 - O
uso de neuroestimuladores ou potenciadores cognitivos é de grande atualidade,
embora seja verdade que há muitas décadas sabemos que os estimulantes melhoram
o desempenho ao reduzir os efeitos da fadiga sobre a atenção e o estado de
alerta. Desta vez falaremos sobre modafinil, metilfenidato e cafeína; seu
resultado no desempenho esportivo e efeitos colaterais. E faremos isso por meio
de uma bateria de perguntas e respostas. | Desenho: Nadja Wittmann (ChessBase)
• O pesquisador
alemão Klaus Lieb, coordenou em 2017, um experimento com a Universidade
Johannes Gutenberg de Mainz (UJGU) e outros centros na Suécia, intitulado
"Drogas para aprimoramento cognitivo podem melhorar o jogo de xadrez"
• No caso do
xadrez, o uso de drogas como modafinil, metilfenidato e cafeína melhorou o
desempenho esportivo em percentuais estatisticamente significativos (entre 6% e
15%). Isso implica que, sob condições iniciais controladas, o aprimoramento
químico dá aos jogadores uma vantagem competitiva.
• O uso dessas
drogas é considerado doping pela Agência Mundial Antidoping (WADA), por violar
artigos específicos do Código; em particular, alguns daqueles relacionados à
Lista de Substâncias Proibidas da WADA; é o caso das anfetaminas.
Que áreas do conhecimento foram
desenvolvidas em relação ao aprimoramento das habilidades mentais e emocionais?
Desde o início
dos anos 80 do século passado, a neurociências e a farmacologia; junto com a
psicologia do esporte, têm se desenvolvido de forma espetacular, gerando novas
formas de conhecimento, abordagem e tratamento das habilidades mentais e
emocionais que têm como base o cérebro humano.
Como a ciência classifica a neuroestimulação?
A ciência distingue duas categorias distintas de neuroestimulação:
• Terapêutica:
voltada para pessoas com diagnóstico.
• não
terapêutico: destinado a pessoas sem diagnóstico.
Quais drogas melhoraram algumas funções cognitivas em indivíduos doentes?
A experiência clínica mostrou ganhos nas habilidades cognitivas em sete
(7) grupos de drogas:
• Fadiga do
modafinil, narcolepsia, hipersonolência, TDAH e depressão. Melhora ligeiramente
a atenção e promove a vigília.
• Metilfenidato:
cansaço, narcolepsia, hipersonolência, TDAH e depressão. Melhora a atenção e a
memória de trabalho.
• Donepezil:
Alzheimer leve a moderado. Não existem dados definitivos a favor da melhoria da
memória.
• Anfetaminas:
cansaço, narcolepsia, hipersonolência, TDAH e depressão. Melhora o aprendizado
verbal, perda de memória, maior vigília e controle da inibição.
• Memantina de
Alzheimer leve a moderada. Não existem dados definitivos a favor da melhoria da
memória.
• Prozac:
depressão (melhora a resistência à ansiedade e ao estresse)
• Ampaquinas:
melhora o QI e a memória de trabalho (Alzheimer e esquizofrenia).
Neuroestimuladores que "otimizam" o desempenho esportivo
Existem evidências experimentais sobre a influência dos neuropotencializadores
no desempenho do xadrez?
Sim, em 2017 o
psiquiatra Klaus Lieb (Alemanha) coordenou um experimento com a Universidade
Johannes Gutenberg de Mainz (UJGU) e outros centros na Suécia, um experimento
intitulado "Drogas para aprimoramento cognitivo podem melhorar o jogo de
xadrez"
Lá, sua equipe
apresentou resultados sugerindo que as drogas que aumentam a cognição também
podem melhorar o jogo de xadrez.
Pela primeira
vez, um estudo avaliou os efeitos de substâncias que melhoram a cognição; entre
eles modafinil, metilfenidato e cafeína, sobre o jogo de xadrez,
Na verdade, o
experimento mostrou como certas drogas podem alterar a maneira como o cérebro
processa informações complexas. No caso do xadrez, o uso dessas drogas melhorou
o desempenho esportivo em percentuais estatisticamente significativos. Isso
implica que, sob condições iniciais controladas, o aprimoramento químico dá aos
jogadores uma vantagem competitiva.
Essas drogas só têm efeito em jogadores de baixo desempenho?
Não. Lieb relata
que estudos anteriores mostraram que essas substâncias melhoram o desempenho
cognitivo quando o indivíduo está cansado ou quando seu desempenho está abaixo
do desempenho ideal, contudo, também pode demonstrar que melhoras de rendimento
cognitivo, inclusive quando os indivíduos se desempenhavam a um alto nível.
Que relação foi descoberta entre essas drogas e a variável de
gerenciamento do tempo do jogo?
O estudo mostrou
que o modafinil, o metilfenidato e a cafeína fazem com que os jogadores de
xadrez aumentem o tempo necessário para decidir sobre uma determinada jogada.
Isso pôde ser verificado quando se observou que esses jogadores tendiam a
perder mais jogos à medida que o tempo se esgotava. No entanto, a equipe
descobriu que tanto o modafinil quanto o metilfenidato aumentaram
significativamente os resultados positivos dos participantes, enquanto a
cafeína mostrou uma melhora mais modesta, mas não estatisticamente
significativa. De acordo com Lieb, os jogadores que tomaram essas drogas
jogaram mais devagar do que o normal, indicando que seus processos de
pensamento pareciam ser mais profundos.
Quais valores foram observados no desempenho de cada uma dessas
substâncias?
Nas afirmações
de Lieb, tanto o modafinil como o metilfenidato deram um coeficiente de
melhoria de cerca de 0,05. Este resultado implica um efeito equivalente a mover
um jogador de 5.000 para 3.500 no ranking mundial. Também pode ser
exemplificado dizendo que em um único jogo, o efeito equivale a ter as peças
brancas, a cada vez, o que dá cerca de 5% a mais de chances de vitória.
Efeitos colaterais e doping
Quais os efeitos colaterais que o modafinil e o metilfenidato podem
causar?
Esses
medicamentos podem causar efeitos colaterais graves, como: dor de cabeça,
tontura, dificuldade em dormir ou em manter o sono, sonolência, náusea,
diarreia, prisão de ventre, flatulência, azia, perda de apetite, alterações no
paladar, boca seca, sede excessiva, sangramento nasal, sudorese, rigidez
muscular ou dificuldade de movimentação, agitação incontrolável de qualquer
parte do corpo, queimação, formigamento ou dormência da pele, dificuldade de
visão ou dor nos olhos, erupção cutânea, bolhas, descamação da pele, ulcerações
na boca , urticária, coceira, rouquidão, dificuldade para respirar ou engolir,
inchaço da face, garganta, língua, lábios, olhos, mãos, pés, tornozelos ou
parte inferior das pernas, dor no peito, batimento cardíaco rápido, acelerado
ou acelerado humor irregular, frenético ou anormalmente eufórico, alucinações
(ver objetos ou ouvir vozes que não existem), ansiedade, depressão e
pensamentos suicidas ou autodestrutivos.
Qual a advertência dos pesquisadores quanto ao uso dessas substâncias?
Os pesquisadores
enfatizam que o uso dessas drogas como estimuladores cognitivos são usos "fora
do normal" e podem ter efeitos colaterais significativos e indesejáveis,
especialmente com o uso repetido ou abuso. Como todas as substâncias
farmacêuticas têm riscos e benefícios, há poucos dados comparando o benefício
do aprimoramento cognitivo com quaisquer riscos ou efeitos colaterais
Quais são as maneiras pelas quais a melhoria cognitiva pode ser
importante para o desempenho esportivo?
A partir de uma
abordagem holística, a interdependência entre as areas do corpo / mente do ser
humano é compreendida; no caso presente, o atleta; portanto, fica evidente que
o cérebro intervém em todas as atividades esportivas. Assim, os especialistas
consideram que há duas maneiras pelas quais as melhorias cognitivas são
relevantes para o desempenho esportivo:
• Competições
esportivas nas quais, além do componente fisiológico, existe também um
componente mental: Por exemplo, xadrez.
• Competições
onde há atividade mental significativa. É o caso daqueles esportes em que
existe uma interdependência entre os atletas (individuais ou coletivos), visto
que o sucesso no desempenho esportivo depende em grande parte de estratégias
complexas. Por exemplo, os chamados esportes eletrônicos.
O uso dessas drogas por um atleta pode ser considerado doping?
Sim.
Independentemente de o uso dado pelo atleta e sua equipe ter como objetivo
melhorar as habilidades cognitivas; típico dos esportes intelectuais, mas com
aplicações práticas em qualquer dos esportes físicos, é considerado doping por
violar artigos específicos do Código; em particular, alguns daqueles
relacionados à Lista de Substâncias Proibidas da WADA; é o caso das
anfetaminas.
Não às drogas!