Prezados Enxadristas
universitários e comunidades,
Um segundo artigo do renomado
colunista da chessbase e palestrante, Dr. Uvencio Blanco, sobre o ensino do
xadrez a partir de uma abordagem de aprendizagem ativa.
Boa leitura a todos e viva o
xadrez!
Fábio
da Rocha
Presidente
do Clube de Xadrez Scacorum Ludus
por Uvencio Blanco Hernandez
06/05/2022 – O ensino do
xadrez em ambientes escolares enfrenta uma série de desafios importantes desde
sua conceituação e propósitos. A aprendizagem ativa é uma estratégia
didática que implica uma mudança na abordagem em que o aluno deixa de ser uma
entidade passiva no processo e passa a ser o protagonista de sua própria
aprendizagem. | Tradução: Fábio da Rocha – Clube de Xadrez Scacorum
Ludus/UFS. https://es-chessbase-com.translate.goog/post/ensenanza-del-ajedrez-aprendizaje-activo-uvencio-blanco?_x_tr_sl=es&_x_tr_tl=pt&_x_tr_hl=pt-BR&_x_tr_pto=wapp
- A
aprendizagem ativa é uma estratégia didática que implica uma mudança na
abordagem em que o aluno deixa de ser uma entidade passiva no processo e passa
a ser o protagonista de sua própria aprendizagem.
- Nesse
modelo, é importante que o aprendizado seja centrado no aluno e busque uma
participação ativa, consciente e protagonista do mesmo.
- Para
a aplicação da estratégia pelo professor, instrutor ou treinador de xadrez, ele
deve assumir seu papel de guia, motivador e mediador entre o conhecimento e
seus alunos.
Desafios
a serem enfrentados pelo professor ou instrutor de xadrez escolar
O ensino de xadrez em
ambientes escolares enfrenta uma série de importantes desafios que vão desde
sua conceituação e propósitos, entre outros, projetos voltados ao
desenvolvimento de habilidades cognitivas, o estabelecimento de transferências
para domínios como a matemática, a formação em valores, o uso como ferramenta
recreativa e/ou esportiva, etc.
A maioria destas propostas
está orientada para a utilização do xadrez para fins recreativos e,
posteriormente, com base no desenvolvimento de competições mais ou menos
formais, para o campo desportivo, ou seja, a utilização da sala de aula como
sementeira, canteiro de novos enxadristas e jovens talentos que vão nutrir as
seleções estaduais e nacionais.
Outro dos problemas levantados
é a falta de professores devidamente formados para ensinar os princípios do
xadrez no âmbito dos programas de alfabetização enxadrística. Esta é
provavelmente a maior limitação dos governos regionais e nacionais ao
considerar a realização deste tipo de programas de inovação educacional.
Da mesma forma, e como parte
integrante de todo o processo de ensino-aprendizagem, está o das estratégias
metodológicas que serão aplicadas no desenvolvimento dos diferentes cursos de
xadrez.
Uma
visão sistêmica
Nesse sentido, Blanco (1995)
destaca que a educação tem enfatizado seu foco no conteúdo, informação e
conhecimento, mas sem dar importância ao processo, mecanismo ou método pelo
qual é instruída. Ele acredita que com base nisso podemos falar
propriamente de uma didática focada no conteúdo e uma didática focada no
processo.
·
A
nova tendência, uma didática centrada no processo, enfatiza o que o aluno
aprende e compreende, apresentando o conhecimento de tal forma que o aluno
compreenda, a partir de seu próprio esforço, o mecanismo interno de aquisição
desse conhecimento. Da mesma forma, propõe-se que o aluno, além de poder
reter conteúdos, adquira uma série de habilidades para coletar, processar e
transmitir informações durante o processo de aprendizagem e diante de problemas,
sejam acadêmicos ou cotidianos.
Em outras palavras, que ele "aprenda a
aprender", que seja capaz de saber o que aprende, como aprende, que passos
e estratégias deve usar, que dificuldades podem impedi-lo de adquirir
conhecimento ou resolver um problema em determinado momento, e como superar
essas dificuldades. Assim, a ênfase da metodologia utilizada no xadrez é
cada um no aluno e sua participação dinâmica na aula.
Uma intervenção associada ao
conceito de "aprendizagem ativa" e da qual os nossos teóricos
curriculares, bem como os gestores e professores participantes nos projetos
escolares de xadrez, devem ter como um dos princípios fundamentais do ensino do
xadrez nos diferentes centros de ensino da qual esta proposta inicia o seu
trânsito.
O Tecnológico de Monterrey
(2021) sustenta que:
·
A aprendizagem ativa é uma estratégia de
ensino-aprendizagem que tem como foco o aluno, promovendo sua participação e
reflexão contínua por meio de atividades que se caracterizam por serem
motivadoras e desafiadoras. Visando aprofundar o conhecimento. Desenvolvem
as habilidades de pesquisar, analisar e sintetizar informações, promovendo uma
adaptação ativa à resolução de problemas.
Objetivos
de Aprendizagem Ativos
Entre os mais importantes
devemos destacar:
·
Proporcionar aos alunos um ambiente, atividades
e apoio pedagógico necessários para desenvolver habilidades de pesquisa,
análise e síntese de informações, resolução de problemas, diálogo, etc.
·
Refletir e praticar os conhecimentos e
habilidades passados pelo professor para construir memórias de longo prazo e
uma compreensão mais profunda que permita que os alunos não apenas armazenem as
informações na memória, mas adotem esses conhecimentos e habilidades como seus.
·
Permite criar conexões entre o material aprendido
e pensar criativamente.
Esta estratégia concebe a
aprendizagem como um processo construtivo e não receptivo; e implica a
concepção da aprendizagem como processo e não apenas como recepção e acúmulo de
informações.
O
que a psicologia cognitiva pensa sobre esse tema?
Como dito acima, o ensino
baseado em metodologias ativas é centrado no aluno. Em sua formação em
habilidades do conhecimento da disciplina.
Segundo García-Bullé (2021),
as pesquisas cognitivas, principalmente da psicologia, mostram consistentemente
que uma das estruturas mais importantes da memória é justamente sua estrutura
associativa. O conhecimento é estruturado em redes de conceitos
relacionados chamadas redes semânticas. As novas informações são acopladas
à rede existente. Dependendo de como essa conexão é feita, as novas
informações podem ou não ser usadas para resolver problemas ou reconhecer
situações (Glaser 1991).
Um segundo elemento que
sustenta o uso de metodologias ativas de ensino é que a aprendizagem
autodirigida, ou seja, o desenvolvimento de habilidades metacognitivas, promove
uma aprendizagem melhor e maior.
Trata-se de promover
competências que permitam ao aluno julgar a dificuldade dos problemas, detectar
se compreendeu um texto, saber quando utilizar estratégias alternativas para
compreender a documentação e saber avaliar a sua progressão na aquisição de
conhecimentos (Brunning et al. 1995). Durante a aprendizagem autodirigida,
os alunos trabalham em equipe, discutindo, discutindo e avaliando
constantemente o que aprendem. Metodologias ativas utilizam estratégias
para apoiar esse processo.
Devemos internalizar que essas
metodologias enfatizam que o ensino deve ocorrer no contexto dos problemas do
mundo real ou da prática profissional. Devem ser apresentadas situações as
mais próximas possível do contexto profissional em que o aluno irá
desenvolver-se no futuro. Da mesma forma, a contextualização do ensino
promove a atitude positiva dos alunos em relação à aprendizagem e sua
motivação, o que é essencial para uma aprendizagem com maior compreensão e
significado. Também permite que o aluno enfrente problemas reais, com
nível de dificuldade e complexidade semelhantes aos encontrados na prática
profissional.
Uma
proposta já validada
Procurando satisfazer uma
necessidade expressa por muitos e inspirada em uma frase do mestre argentino
Roberto Grau (1900 - 1944), pude desenvolver uma proposta metodológica que
facilitaria um programa de ensino-aprendizagem de xadrez.
Em um de seus magníficos
volumes do Tratado Geral de Xadrez, Grau afirmou: “O jogo de xadrez tem faltado
métodos de ensino e o homem, tempo. ”
Pois bem, nesta proposta
tentamos ser ecléticos incorporando os aspectos mais relevantes oferecidos
pelas diferentes filosofias e tendências educacionais do início dos anos
90; em especial, aquelas que estimulam o aluno a um papel mais consciente
e protagonista em seu processo de aprendizagem.
Esta metodologia de ação,
proposta no trabalho “Sistema Instrucional de Xadrez”, implica uma mudança
substancial na estrutura e desenvolvimento das atividades cotidianas da
aula. Trata-se de transformar a sala de aula em uma oficina onde a
movimentação, interação e participação de alunos e professores dará como
resultado diário, a “exploração” dos conceitos e princípios do xadrez.
Para atingir os objetivos
propostos, recomendamos uma metodologia que deve pautar-se pelos princípios da
participação ativa de todos os alunos no maior número possível de
atividades. Para isso, eles devem considerar os seguintes aspectos:
O
uso de atividades recreativas
Não só como instrumento que
tende a favorecer uma atitude afetiva em relação ao xadrez, mas também a
provocar experiências que ajudem os alunos a compreendê-los; é oferecida a
oportunidade de que, ao apresentar seus alunos ao mundo do jogo, que é o seu
próprio mundo, eles aproveitem para direcionar sua atenção para o aprendizado e
a prática do xadrez em competição.
O
desenvolvimento de processos de forma lógica
A partir de pré-requisitos ou
processos básicos, até os mais complexos. Isso deve estimular na criança,
a aquisição e o desenvolvimento de mecanismos e ferramentas que permitam a
reflexão, a tomada de decisão, a resolução de problemas e a busca de novas
soluções.
O
conceito de resolução de problemas como um processo
De pensamento, raciocínio e desenvolvimento
de estratégias que nos permitam chegar com sucesso à sua solução. Isso se
reflete em todas as metas de solução de problemas.
O
desenvolvimento de habilidades e destrezas básicas
Como fazer cálculos mentais e
aproximações pode ser muito útil para fortalecer noções fundamentais.
A
fase de desenvolvimento em que a criança se encontra
Neste momento, é uma etapa de
expansão e organização das operações concretas e começa a formalizar conceitos
e estratégias de pensamento, mas mesmo assim não pode se desvincular da ação
direta sobre os objetivos. Isso se reflete nas estratégias metodológicas,
procurando estimular a ação do aluno, partindo de ações concretas para
conduzi-lo ao desenvolvimento de ações interiores, cada vez mais abstratas e
reflexivas.
A
experiência adquirida pelas crianças
Tanto na sua vida familiar
como nas atividades da sua comunidade, bem como na sua vida
escolar. Assim, no desenvolvimento das estratégias metodológicas, essa
experiência é revelada e é dada especial ênfase à continuidade dos objetivos,
conteúdos e, principalmente, das estratégias metodológicas trabalhadas pelos
alunos, na Primeira Etapa da Educação Básica.
As
atividades de reforço
Para a consolidação de
conceitos, aquisição de hábitos e normas de estudo e trabalho, que permitam à
criança um melhor desempenho escolar. Estas atividades são constituídas
por uma série de exercícios, práticas e diferentes propostas com as quais os
alunos podem trabalhar para melhorar a sua aprendizagem nas diferentes
disciplinas estudadas. Eles complementarão os conteúdos que são essenciais
para estudar e que correspondem ao período de tempo de um determinado
planejamento elaborado pelos professores para melhorar o nível educacional de
cada aluno.
Alguns
exemplos de participação em atividades associadas à "aprendizagem
ativa" em escolares participantes de programas de xadrez
Professores e instrutores de
xadrez investigarão e estudarão as estratégias metodológicas que facilitam o
trabalho em sala de aula; entendida como um processo de ensino-aprendizagem
de maior significado e importância.
Abaixo descrevemos exemplos
que descrevem o papel mais ativo agora desempenhado pelo aluno que inicia no
jogo de xadrez. Em geral, o "Sistema de Xadrez Instrucional"
apresenta-os como atividades sugeridas para os alunos.
Nível
I - Unidade IV: Fundamentos de Abertura
Objetivo nº 34: Especificar os
objetivos fundamentais, para os lados branco e preto, na fase de abertura
Os alunos:
·
Buscarão
informações sobre os objetivos estratégicos perseguidos na fase de abertura,
tanto pelo branco quanto pelo preto.
·
Prepararão
um esquema no qual serão apresentados os objetivos identificados para cada
lado.
·
Discutirão
a luta pelo controle do centro e o rápido desenvolvimento das forças
participantes.
·
Reproduzirão
jogos selecionados da prática magistral, nos quais o tema estudado é ilustrado.
·
Identificarão,
observarão, descreverão e compararão os objetivos buscados por cada um dos
lados opostos.
Nível
II - Unidade II: Avaliar as ações de ataque e defesa como métodos de condução
da luta de xadrez
Objetivo nº 18: Determinar os
fatores dinâmicos presentes em um ataque ao roque inimigo
Os estudantes;
·
Solicitarão
informações sobre finais: sua definição, características, classificação e
exemplos.
·
Selecionarão
e reproduzirão finais de jogo extraídos da prática magistral em que se observa
a aplicação dos princípios básicos estudados.
·
Vão
discriminar as configurações correspondentes ao final do jogo.
·
Agruparão
os finais, dependendo do tipo de figuras presentes no tabuleiro.
·
Observarão,
compararão e descreverão finais selecionados.
Nível
III - Unidade II: Reconhecer que os processos de análise e síntese se complementam
na avaliação precisa de uma determinada posição
Objetivo nº 13: Deduzir as
relações existentes entre os elementos que constituem uma determinada posição
Os alunos:
·
Observarão,
compararão e descreverão as relações presentes entre os elementos de uma série
de posições dadas.
·
Descreverão
cada uma das relações observadas, em uma série de posições dadas.
·
Coletarão
informações sobre o processo de avaliação posicional, como resultado da análise
das relações existentes entre os elementos de uma determinada situação, no
quadro.
·
Especificarão
a importância do processo de avaliação posicional, como etapa anterior à
elaboração de planos, durante o desenvolvimento do jogo.
Fontes
White, U. (1995). Sistema
Instrucional de Xadrez. Caracas.
White, EUA
(2020). Capablanca e seu método Amazon.
Brunning, RH, & Schraw, GJ
Ronning Rr (1995).“. Psicologia Cognitiva e Instrução 2ª ed., Englewoods
Cliffs (ed) Nova Jersey: Prentice Hall.
García-Bullé, S. Tecnológico
de Monterrey. O que é aprendizagem ativa? 03/11/2021.
Glaser, R. (1991). O
amadurecimento da relação entre a ciência da aprendizagem e a cognição e a prática
educativa. Aprendizagem e instrução, 1(2), 129-144.